terça-feira, 25 de março de 2008

O PT E O CANTO DA SEREIA

Ao lado do governador de Minas, Aécio Neves, o deputado federal Ciro Gomes, do PSB, advogou a aliança entre o PT e o PSDB em Belo Horizonte, a qual chamou de “processo de reconciliação histórica”, afirmou que “a hegemonia moral e intelectual que preside esse movimento é tão eloqüente e importante que a escória da política deve estar apavorada”, que o PT e o PSDB “representam com mais eloqüência a modernidade, com todas as suas contradições” e que, no governo Fernando Henrique, o PSDB foi “obrigado a se confraternizar com a escória da política brasileira”, mas, no governo Lula, “travou diálogo”, apesar do atual governo ter sido “obrigado a confraternizar com uma parte da escória da política”.

Omiti, aqui, uma ou duas expressões “escória da política”, e uma ou duas “eloquências”, porque o Ciro é nosso amigo.

No entanto, às vezes ele fala demais e pensa de menos. Nem por isso deixa de ser um sujeito de méritos. Um deles, e não dos menores, foi ter saído do PSDB, exatamente para não conviver com a “escória da política”, que não estava, e não está, fora deste partido. Se estivesse, certamente ele não teria picado a mula - e estaria até hoje convivendo com aquele conclave de santidades da política.

Outro de seus méritos é não gostar do Serra. Somente não reparou que a diferença entre Serra e Aécio consiste na marca da brilhantina que eles usam para disfarçar o óleo de peroba.
Porém, ficamos muito satisfeitos em saber que durante o governo Lula o PSDB “travou diálogo”. Um esclarecimento muito necessário, pois todos pensávamos que o nome daquilo era golpismo, calúnia, difamação, injúria, falta de decoro, destempero, xingamento, canalhice verbal, ou algo parecido. Agora, Ciro nos esclareceu que era um “diálogo”.

Todos os sintomas são de que o deputado estava atacado por uma peculiar dicionarite, mal que faz com que suas vítimas troquem os significados das palavras. À tentativa de Aécio de submeter o PT ao PSDB, chamou “processo de reconciliação histórica”. Ao reacionarismo jumentino do governador mineiro, de “hegemonia moral e intelectual”. E, para completar, tentou enfiar um partido progressista, o PT, e um partido reacionário, o PSDB, no mesmo saco de “representantes (e eloquentes) da modernidade”. É verdade que, aqui, reparou que havia algo estranho, acrescentando “com todas as suas contradições”.

É, com todas.

Porém, leitor, o Ciro é bom sujeito. Apenas, às vezes, é muito eloqüente.

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