quinta-feira, 3 de abril de 2008

Revelação de compra esotérica derruba dossiê para canonizar FH


Venham ver o que eu fiz com o dinheiro. Abre, mostra, é melhor”, diz FHC, sem esclarecer o gasto feito por seu gabinete com exótico artefato


Há algumas semanas, o velho sacripanta Fernando Henrique Cardoso fez uma de suas costumeiras encenações: aproveitou a imprensa reunida numa solenidade para dizer que o presidente Lula tinha que “esclarecer” gastos da Presidência - como se esses gastos, por serem sigilosos, tivessem algo de obscuro. “Se eu fosse o presidente Lula, eu diria o que eu disse: ‘olha venham ver o que eu fiz com o dinheiro, como é que foi gasto esse dinheiro’. Não tem problema nenhum. Abre, mostra, é melhor”, falou o elemento.


Como, segundo ele, “não tem problema nenhum”, as vozes da opinião pública (a verdadeira, não a opinião publicada pela mídia) pedem, no momento, que ele esclareça os motivos pelos quais, entre os secos e molhados que sua Presidência adquiriu, havia um pênis de borracha, e qual a participação de tal adereço no excelente desempenho de sua gestão.


Diga-se de passagem, a informação de que esse algo restrito utilitário estava entre os gastos do período em que Fernando Henrique ocupou o Planalto não foi divulgada pelo atual governo ou por qualquer governista. Pelo contrário. A notícia apareceu no site do vetusto “Estadão”, no último dia 19 de fevereiro, em matéria assinada pelo jornalista João Domingos – e não foi desmentida, apesar do frenesi que causou em certos meios oposicionistas.


A matéria do “Estadão” já vinha com uma explicação: o citado objeto havia sido comprado “para uma aula de educação sexual numa escola pública”. Não se sabia que entre as funções da Presidência da República estava a de comprar um pênis de borracha (um único, não uma grosa, uma carrada ou lá que nome tenha o coletivo dessa commodity) para aulas de educação sexual em escolas públicas.


Não somos a favor de escarafunchar certas questões, mas, já que, segundo Fernando Henrique, seu princípio é o do “olha venham ver o que eu fiz com o dinheiro, como é que foi gasto esse dinheiro". Não tem problema nenhum. Abre, mostra, é melhor”, seria bom que ele esclarecesse em que escola pública foi proferida essa aula de educação sexual – e por quem. Além disso, também seria bom esclarecer porque a Presidência da República ficou tão mobilizada para atender a esse pleito – se é que a contribuição não foi espontânea. Em caso de problemas de memória, é só consultar o Eduardo Jorge, seu secretário e infalível arquivista, que certamente saberá.


Mas, disse Fernando Henrique que “não existe conta sigilosa ou secreta da Presidência da República, e tampouco são pessoais. Se houver dinheiro público para gasto pessoal, não pode, está errado”.


Como já vimos, o pênis de borracha foi um gasto público. Não tinha nada de pessoal. Se fosse um pênis particular, aí estaria errado. Porém, será que Fernando Henrique considera que o gasto com aquilo que come não é um gasto pessoal? Ou será que pagou do seu bolso tudo o que consumiu por via oral durante seus oito anos no Alvorada? Se não foi o dinheiro público, quem pagou seus gastos pessoais quando era presidente? Porém, talvez não fosse a sua pessoa que comia à tripa forra no Palácio, mas um farsante. Nisso, ele não deixa de ter uma certa razão.


SIGILO


Entretanto, o ridículo jamais foi a pior coisa em Fernando Henrique. Há piores... Por exemplo, ele sabe perfeitamente que seus gastos como presidente não podem ser abertos e mostrados, pois, por lei, são sigilosos. Portanto, essa história de “abre, mostra” é palhaçada. Mais precisamente, é canalhice: ele sabe que é ilegal abri-los e mostrá-los, e por isso mesmo é que fica nesse “abre, mostra” e outras besteiras.


Evidentemente, não existe Estado sem que alguma coisa seja segredo de Estado - o que está, inclusive, consagrado na Constituição (Art. 5º, inciso XXXIII), regulamentado (Lei 11.111) e decretado (decreto-lei nº 200). A única possibilidade de não haver segredo de Estado seria se o país não tivesse inimigos, externos e internos. Mas, quando isso acontecer, o próprio Estado é que será dispensável – e por isso não se poderá falar em segredo de Estado. No entanto, ainda estamos longe disso – e Fernando Henrique jamais foi a favor da extinção do Estado. Ao contrário, sempre foi um adepto de se aproveitar do Estado.


PRESEPADA


Um fenômeno estranho passou a acontecer na última fornada de chicanas e presepadas da oposição e da mídia golpista: além de inventarem dossiês, passaram a divulgar o seu suposto conteúdo e, inclusive, episódios picarescos contra si mesmos. Na quarta-feira, o senador tucano Álvaro Dias (ver matéria nesta página) foi dedurado por um cortesão da mídia golpista como a fonte do dossiê da “Veja” sobre gastos da Presidência de Fernando Henrique. Pelo jeito, como não encontraram nada para usar contra o governo Lula, não lhes restou mais do que vazar dossiês contra si mesmos, ainda que atribuindo-os ao governo. Agora, conseguiram quase a perfeição: vazar o vazador.


Álvaro Dias ainda não disse quem lhe forneceu o dossiê. Como afirmaram alguns parlamentares, o senador tornou-se cúmplice de um crime, ao ser intermediário de um vazamento de dados que são sigilosos por lei. Porém, é significativo que o conteúdo divulgado seja tão inócuo que o material parece ter sido confeccionado para consagrar Fernando Henrique como um santo na Presidência. Certamente, não foi um adversário de Fernando Henrique quem o organizou. Não por acaso, o pênis de borracha não aparece no rol do senador Álvaro Dias. Mas, com receio de que esse exótico gasto estragasse a canonização de FH, alguém considerou que era melhor fornecer logo uma explicação pronta para ele. Daí o seu vazamento, por fora do anódino “dossiê”.

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