sexta-feira, 15 de maio de 2009

O BRASIL É PROTOGENES


Por Geraldo Elísio



A vinda do delegado Protógenes Queiroz a Belo Horizonte chamou a atenção. Não pela visita em si, mas por fatos que dela podem ser analisados. Nas ruas e locais visitados por ele, o policial foi alvo de admiração popular a traduzir um caráter relevante: neste Brasil de oito milhões de quilômetros quadrados, existe uma indignação latente com o nosso cotidiano, pronta a se consolidar em indignação. Daí pra frente não sei o rumo.Protógenes encarna – sem fazer força e sem querer – lembrando Glauber Rocha, a figura do “santo guerreiro” contra o “dragão da maldade”. Maldade encarnada na onda sem precedentes de corrupção; em “proteção” dada aos corruptos, desde que sejam polpudas as contas bancárias. Aos salários especialíssimos de poucos. Contra minguados cruzados de milhões. À inversão de valores. No imaginário popular, o Brasil é uma Nação onde, desde que disponha de dinheiro, o bandido pode prender o policial. O desrespeito. A falta de credibilidade das instituições.


As mentiras oficiais de hoje, desmentidas amanhã. A sensação de perda de um elo, a formação de uma consciência crítica, em função da omissão da grande imprensa subjugada aos caixas dos poderosos. E até mesmo a conclusão de que o vírus corrosivo da cidadania leva o próprio povo a imitar a quem condena tudo em nome de uma sobrevivência que não pode ser renunciada.Maldade dos falsos moralistas contrários aos corruptos, logo os absolvendo desde que a corrupção venha a beneficiá-los. Como se o crime praticado por alguns, em outros se transforme em virtude.“... Ai, são pais de santos, paus-de-arara são passistas / São flagelados, são pingentes, balconistas...” Que o grande compositor, instrumentista e cantor João Bosco, mineiro de Ponte Nova, e seu parceiro Aldir Blanc, em “Rancho da Goiabada”, imortalizada pelo João e Elis Regina, compreendam e absolvam a minha “parceria”.São operários que levantam de madrugada para voltar quase de madrugada para casa sem poder amar a mulher e ver os filhos, enfrentando salários ridículos. Sem poder contar com um sistema de saúde eficiente, segurança a todo tempo, educação de qualidade, lazer e cultura. São bancários a lidar diária e honestamente com muito dinheiro que eles sabem é roubado, vendo os bilhões e trilhões de lucros transformado em salários ameaçadores, fazendo com que “cada vez mais o final do mês é mais assustador que o fim do mundo”, frase vista pela colega jornalista Sandramara Damasceno, escrita em algum lugar. São professores com iguais problemas, eles, sem os quais “faraós embalsamados”, com as exceções de sempre, não assombrariam a Praça dos Três Poderes, valendo a figuração para assemelhados.São médicos e paramédicos que se matam para derrotar a doença. São doentes cuja dor maior é a da injustiça. São policiais que têm de arriscar a própria vida ao enfrentar bandidos por opção e outros que não tiveram opção. São jornalistas que não têm a liberdade de informar como nós temos aquilo que sabem e desejam informar. São bóias-frias que “...quando tomam uma birita / Espantando a tristeza / Sonham com bife-a-cavalo, batata-frita / E a sobremesa / É goiabada casão com muito queijo / Depois do café, o cigarro e um beijo / De uma mulata chamada Leonor ou Dagmar”. São desempregados, subempregados, estudantes que “ralam” 1/4 de vida, têm diploma e raras perspectivas de vida. Somos nós os brasileiros comuns a desmentir a Constituição que afirma sermos todos iguais perante a ela. “Pero non mucho.”“... Amar / O rádio-de-pilha, o fogão-jacaré, a marmita, o domingo / no bar / Onde tantos iguais se reúnem contando mentiras / Pra poder suportar...” Ninguém suporta mais. Onde a goiabada e o queijo, o café e o beijo de Leonar ou Dagmar? Tudo virou um retrato na parede, como diz Carlos Drummond de Andrade. Se não roubaram o retrato também. Se ainda não o fizeram, estão prestes a fazê-lo.Bosco e Blanc, a música é de vocês, de seus talentos. Mas no filme “O Carteiro e o Poeta”, de Michael Radford, Philippe Noiret, fazendo Pablo Neruda, ouve do carteiro interpretado por Massimo Troisi, que depois de feita a poesia (a música também), não é do autor, sim de quem precisa. A situação social do Brasil precisa.


Para isto existem artistas como vocês.Nem a oposição abraça Protógenes.


Por quê?


Indagaram os jornalistas Márcio Fagundes, Walter “Pernambuco” e o empresário Edmar, dono da Cantina do Lucas, reduto de resistência, quando o delegado, cumprimentado por todos, esteve no bar.Talvez porque oposição e situação estejam entrelaçadas nesta mixórdia que virou o Brasil. Onde estão Rodrigo Maia, ACM Neto e outros? No Brasil pode-se pensar em tudo. Existe a possibilidade de em algum momento a dívida externa brasileira ter sido fraudada? Mensalões, sanguessugas, privatizações irregulares, sabemos? Fernando Henrique Cardoso, “Farol de Alexandria”, professor da Sorbonne, o que tudo sabe, isto é possível ocorrer? Se souber, por favor, meu e-mail é disponibilizado. Daniel Dantas, “banqueiro condenado”, com mais de mil e quatrocentas concessões de lavras do subsolo nacional, como disse Protógenes, “ele é quase dono do Estado de Minas Gerais”, venderá o Brasil?


No dia 14 de maio do mês corrente a justiça americana manteve o dinheiro dele bloqueado. Santo, Dantas não é.Talvez por isto Kerison Lopes, um dos que foram cumprimentar Protógenes, tinha afirmado que ele é “um fenômeno midiático nacional, provando que o povo não acredita mais na grande mídia, pois a Internet quebrou parâmetros. O povo acredita no Novojornal, em Paulo Henrique Amorim e seu Conversa Afiada, em Luiz Nassif. Falta o surgimento de um Protógenes em cada estado”.Conselho se fosse bom, diz o ditado popular, a gente não daria, venderia, mas vai uma sugestão. Suas excelências de todos os Poderes devem meditar sobre este quadro. Principalmente ouvindo “a voz rouca das ruas”.Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.



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