quinta-feira, 30 de abril de 2009

O FIM DO MUNDO

Um amigo indagou se a sucessão de escândalos ocorridos no País, apurados e nunca punidos, são planos para levar o brasileiro à apatia total. Pode não ser plano, mas o efeito conduz o Brasil a um estado de desencanto.Nas ruas os brasileiros acreditam em pouca coisa, principalmente das Instituições. O senso de humor produz chistes de conteúdo amargo. Ou seja, ainda se mantém a capacidade de rir, mas da própria desgraça.


Nas filas e interior dos transportes coletivos o ar de preocupação a envolver as complicações do trânsito, a demora das esperas, o mau humor de motoristas e trocadores, o medo de assaltos resultantes da falta de policiamento ostensivo e o próprio comportamento dos usuários a desrespeitar regras mínimas do exercício da cidadania oferecem um retrato cruel.O lucro dos proprietários das linhas de transporte coletivo é sagrado. O conforto dos passageiros é profano. Fiscais a todo o momento requerem dos idosos com direito à gratuidade e que ocupam lugares determinados por Lei, a prova de já estarem em condições de desfrutar do direito legal.Mas eles próprios ocupam os lugares reservados e se negam a cedê-los a quem de direito; desconhecem “pivetes” que invadem os coletivos ameaçando trocadores e motoristas, e jovens a ocupar os lugares dos idosos, fingindo dormir.No futebol, ônibus são quebrados para compensar frustrações de uma derrota ou empate e igualmente para comemorar vitórias. Nos teatros e cinemas as pessoas chegam atrasadas. Pouco se importam se perturbam ou não outros espectadores. Pés são colocados sobre as poltronas.


O matraquear das pipocas mastigadas se confundem com as sequências de disparos dos filmes de ação. Para não dizer dos inoportunos que resolvem atender celulares, ignorando as advertências para que não o façam.As grandes cidades se transformam em imensos sanitários, cheirando mal e aumentando o risco de doenças. As populações das megalópoles são pigméias diante dos ratos a pulular nas vias públicas – outro risco para a saúde pública neste País que a cada dia que passa perde mais a sua identidade. Ô País de ratos!Aumentam como “procissão ou cobra se arrastando pelo chão”, as multidões de desempregados, famintos, gente que fala sozinho, mendigos, sãos ou insanos irmanados na falta de perspectiva de ver um horizonte mais luminoso. Milhares anualmente deixam as faculdades com um diploma na mão e o que lhes é oferecido? Nada! As atividades circenses migraram dos picadeiros onde eram bem remuneradas. Estão nas travessias onde existem semáforos – malabaristas, palhaços, equilibristas – de pires ou chapéu nas mãos dando um ar de sofisticação à mendicância.


Crises institucionais são deflagradas em função de “grampos” existentes ou não, de acordo com as conveniências, mas companhias de toda a natureza, inclusive bancos, nos atormentam aos celulares com o aviso de que “para a sua própria segurança estamos gravando esta conversa”. E nada acontece, reforçando a apatia.“Verde que te quero verde”, diria Federico Garcia Lorca. Mas infelizmente a própria esperança que, segundo Vinícius de Moraes, “também se cansa”, está perdendo a esperança. O humanismo e a poesia fugiram do mundo. Há que se saber o que é e o que não é politicamente correto. Fritz Teixeira de Salles, poeta federal, na definição de seu colega Drummond de Andrade, escreveu: “... A moça linda chora porque foi cantada. / A moça feia chora porque não foi cantada...”. Hoje é possível que alguém chore porque cantou ou porque não cantou. Pode ficar passível de assédio sexual ou então de omissão de socorro.Antes o assaltante apontava sua arma para o cidadão, assaltava e saia correndo. Hoje ele repete o gesto e determina que o cidadão que paga impostos saia correndo. E nem, como diz Chico Buarque, adianta chamar o ladrão. Já não os fazem como antigamente.Em Moscou o comunismo chegou a ser proscrito. Em Washington empresas são privatizadas. Parlamentares medíocres constroem castelos cafonas e ostentatórios. Renan Calheiros, Eduardo Suplicy (até tu, Brutus, meu filho?) namoram mulheres bonitas com o dinheiro público. Será por isto que certas mulheres são públicas e certos homens são públicos? Empregadas domésticas são pagas com o dinheiro dos impostos. Times de futebol e apresentadoras de televisão igualmente têm as suas passagens aéreas subsidiadas desta forma.


E quem para dar um novo rumo?


Fernando “Henritler”, o “Farol de Alexandria”, carrasco dos aposentados e do povo brasileiro. O maior entreguista e lesa-pátria de toda a história nacional. José Serra, ex-presidente da UNE, agora com ideias neoliberais? O jovem Aécio Neves pensando que é o seu avô Tancredo. Itamar Franco e a sua obsessão de trair? Lula, “o cara” que nada sabe e nada vê? José Sarney do Maranhão? Collor de Mello de Canapi? Quem, meu Deus, quem? Só falta o velho Nelson Thibau, do alto de seus mais de noventa anos, dizer que é ele. Ou o presidente do Corinthians, contestado pelo presidente do Palmeiras; o do “Galo”, contestado pelo colega da “Raposa”; o do Flamengo, questionando o Vasco e por aí a fora que ninguém entende ninguém e parece não é para entender.Alguns culpam o comunismo, outros o capitalismo. Alguns culpam os dois. Na apatia geral costuma-se não culpar ninguém. É viver o hoje e deixar que o mundo acabe amanhã. Alguns culpam o psiquiatra italiano Franco Basaglia por ter recomendado a extinção dos hospícios. Não tenho procuração de seus descendentes para defendê-lo.


Mas o faço assim mesmo. Basaglia viu que as casas de saúde mental são desnecessárias porque o mundo todo o é. Principalmente os palácios de qualquer natureza, obviamente com as exceções de sempre.

Geraldo Elisio - jornalista

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